Manoel
de Jesus
CONCEPÇÕES DE LEITURA E DE ESCRITA
A importância do ato de aprender a ler e a
escrever está fundamentada na ideia de que o homem se faz livre por meio do
domínio da palavra. O uso da linguagem é tão importante que a linha do tempo
divide a história em antes e depois da escrita.
A partir de então, o homem pôde registrar sua
cultura, as descobertas, as emoções, sua poesia, enfim, sua maneira de ver o
mundo. Isso não quer dizer que o homem não manifestasse o desejo de se
expressar no mundo antes de desenvolver a escrita. Ele se comunicava por meio
do desenho e da pintura, mas foi com a escrita que ampliou sua habilidade
comunicativa e socializou o registro através de um sistema convencional de
sinais fechados.
No entanto, aprender a ler e a escrever é mais
do que uma simples decodificação de símbolos.
COERÊNCIA
Segundo o dicionário Houaiss, coerência (do
latim cohaerentia) significa: 1. Estado ou qualidade de coerente. 2. Ligação,
harmonia, conexão ou nexo entre os fatos ou as ideias.
A coerência textual é, portanto, responsável
pelo sentido, pela lógica entre as partes de um texto. Assim, para ser
considerado coerente, o texto deve apresentar uma relação harmônica entre as
ideias apresentadas. Estas, por sua vez, devem estar interligadas e ordenadas a
fim de formar uma unidade de sentido.
Coerência, portanto, é uma
combinação de elementos diferentes e individualizados, é a harmonia como
resultado final, produzindo o que chamamos de sentido em um texto, sentido que
passa pelos aspectos internos e pelos aspectos externos. Quando o texto
apresenta uma inadequação entre seu conteúdo e os dados exteriores, dados
relacionados à cultura, à economia, por exemplo, dizemos que há um problema de
coerência externa. Já a coerência interna surge quando as partes que compõem o
texto chocam-se, contradizem-se, não se ajustam. Por fim, texto coerente é o
que não apresenta contradição.
Exemplos:
1 - Circuito Fechado.
Chinelo, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água.
Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete,
água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo,
pente. Cueca, camisa, abotoadura, calça, meias, sapatos, gravata, paletó.
Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio. Jornal. Mesa,
cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. [...]
Ricardo Ramos. Circuito fechado. Contos, 1978
2 - Pérolas de vestibulares
“O ateísmo é uma religião anônima”.
“Os Estados Unidos tem mais de 100.000 km de
estradas de ferro asfaltadas”.
“Precisa-se começar uma reciclagem mental dos
humanos, fazer uma verdadeira lavagem cerebral em relação ao desmatamento,
poluição e depredação de si próprio”.
COESÃO
Ao ler
um texto, percebe-se que as palavras, expressões, frases e parágrafos dão
continuidade uns aos outros, se estão ligadas pelo emprego de elementos
coesivos ou recursos coesivos. A coesão é, portanto, a conexão, a ligação dos
elementos do texto, a costura textual, ou seja, a coesão é responsável pela
harmonia entre os elementos dentro de um texto.
Os recursos coesivos são
responsáveis por promover e manter a coesão do texto e podem ser gramaticais
(conjunções, numerais, sinônimos, advérbios, preposições, pronomes) e lexicais
(sinônimos, termos genéricos ou específicos). Esses recursos ou elementos
coesivos possuem a função de garantir a união entre as várias partes de um
texto.
Exemplo: “Um corpo estranho assemelhado a um
plástico encontrado em uma garrafa de vidro de 290 mililitros de Coca-Cola
gerou uma indenização de R$ 15 mil a um homem de Belo Horizonte. De acordo com
a sentença, o consumidor foi a um restaurante da capital mineira em março de
2009 e, após ter ingerido 200 mililitros do refrigerante, percebeu que havia
dentro da garrafa um objeto misturado ao líquido, mas tal elemento não
foi identificado. O consumidor considerou que poderia ter havido dano a sua
saúde, além do constrangimento o qual sofreu e procurou seus direitos”.
Fonte: Notícias Uol.
O TEXTO DISSERTATIVO
Dissertar é um ato praticado pelas pessoas
todos os dias. Elas procuram justificativas para a elevação dos preços, para o
aumento da violência nas cidades, para a repressão dos pais. Todos se preocupam
com a AIDS, a solidão, a poluição. Muitas vezes, em casos de divergência de
opiniões, cada um defende seus pontos de vista em relação ao futebol, ao
cinema, à música.
A vida cotidiana traz constantemente a
necessidade de exposição de ideias pessoais, opiniões e pontos de vista. Em
alguns casos, é preciso persuadir os outros a adotarem ou aceitarem uma forma
de pensar diferente. Em todas essas situações e em muitas outras, utiliza-se a
linguagem para dissertar, ou seja, organizam-se palavras, frases, textos, a fim
de – por meio da apresentação de ideias, dados e conceitos – chegar a
conclusões.
Dissertação implica discussão de ideias,
argumentação, organização do pensamento, defesa de pontos de vista, descoberta
de soluções. Para elaborar um texto dissertativo é necessário conhecimento do
assunto que se vai abordar, aliado a uma tomada de posição diante dele. É o
tipo de texto que analisa e interpreta dados da realidade por meio de conceitos
abstratos, ou seja, a referência ao mundo real se faz por meio de conceitos
amplos, de modelos genéricos.
PARTES DE UMA DISSERTAÇÃO
A dissertação é dividida em três partes:
introdução, desenvolvimento e conclusão.
INTRODUÇÃO
Constitui o parágrafo inicial do texto e é
composta por uma sinopse do assunto a ser tratado. Todas as ideias devem ser
apresentadas de forma sintética, pois é no desenvolvimento que elas serão
detalhadas. Esta é a parte em que se apresenta a ideia principal, a tese, a
qual deverá ser desenvolvida progressivamente no decorrer do texto.
A ideia principal é o ponto de partida do
raciocínio. A elaboração dessa etapa inicial exige boa capacidade de síntese,
pois a clareza alcançada na exposição da ideia constitui uma das formas de
obtermos a adesão do leitor ao texto; não que o leitor de imediato concorde com
nosso primeiro argumento – a tese –, mas, se oferecermos a ele um contato
direto com a matéria que encaminhará nossa argumentação, o texto ganhará maior
objetividade e rigor.
DESENVOLVIMENTO
Os
parágrafos de desenvolvimento são os que vão dar sustentação à tese apresentada
na introdução. É esse o momento de justificar, demonstrar, provar as
declarações feitas na introdução. Os parágrafos de desenvolvimento devem ser
marcados pela progressão, ou seja, o texto deve ser construído de forma que vá
apresentando novas informações, claras e pertinentes. Ou seja, nada de
enrolação ou de repetição desnecessária do que já foi dito! Para facilitar sua
argumentação, você pode separar o desenvolvimento de cada ideia em um parágrafo
diferente.
Além de apresentar fatos que
fundamentem a sua dissertação, é importante que você também aponte argumentos
contrários e que aponte porque, de acordo com a sua tese, eles não são
verdadeiros. Afinal, dissertação não é um artigo de opinião, o que significa
que as opiniões contrárias também devem ser consideradas.
CONCLUSÃO
Parte final do texto. Mas é preciso
que uma coisa fique clara: concluir não é simplesmente “terminar” o texto. A
conclusão é feita de comentários que confirmam os aspectos desenvolvidos nos
parágrafos anteriores. É o momento de oferecer uma solução ou demonstrar algum
tipo de expectativa em relação à sua tese e ao assunto como um todo.
O texto bem sucedido constitui um “todo”
significativo, ou seja, uma unidade de sentido. Cada parte do texto só faz
sentido se colocada junto às outras. Não se trata de reunir fragmentos
isolados. Dentro do texto, os elementos devem estabelecer ligação com as
partes, ou seja, cada parágrafo precisa estar relacionado imediatamente com o
seu anterior, e com o restante.
Referência bibliográfica
MAZZAROTTO, Luiz
Fernando. Nova Gramática & Literatura: aprenda a elaborar textos
claros, objetivos e eficientes. 2º ed. São Paulo: DCL, 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário