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segunda-feira, 31 de maio de 2021

JURIDIQUÊS: TÉCNICAS DE REDAÇÃO: COESÃO, COERÊNCIA E O TEXTO DISSERTATIVO

Manoel de Jesus

 

CONCEPÇÕES DE LEITURA E DE ESCRITA

A importância do ato de aprender a ler e a escrever está fundamentada na ideia de que o homem se faz livre por meio do domínio da palavra. O uso da linguagem é tão importante que a linha do tempo divide a história em antes e depois da escrita.

A partir de então, o homem pôde registrar sua cultura, as descobertas, as emoções, sua poesia, enfim, sua maneira de ver o mundo. Isso não quer dizer que o homem não manifestasse o desejo de se expressar no mundo antes de desenvolver a escrita. Ele se comunicava por meio do desenho e da pintura, mas foi com a escrita que ampliou sua habilidade comunicativa e socializou o registro através de um sistema convencional de sinais fechados.

No entanto, aprender a ler e a escrever é mais do que uma simples decodificação de símbolos.

 COERÊNCIA

Segundo o dicionário Houaiss, coerência (do latim cohaerentia) significa: 1. Estado ou qualidade de coerente. 2. Ligação, harmonia, conexão ou nexo entre os fatos ou as ideias.

A coerência textual é, portanto, responsável pelo sentido, pela lógica entre as partes de um texto. Assim, para ser considerado coerente, o texto deve apresentar uma relação harmônica entre as ideias apresentadas. Estas, por sua vez, devem estar interligadas e ordenadas a fim de formar uma unidade de sentido. 
            Coerência, portanto, é uma combinação de elementos diferentes e individualizados, é a harmonia como resultado final, produzindo o que chamamos de sentido em um texto, sentido que passa pelos aspectos internos e pelos aspectos externos. Quando o texto apresenta uma inadequação entre seu conteúdo e os dados exteriores, dados relacionados à cultura, à economia, por exemplo, dizemos que há um problema de coerência externa. Já a coerência interna surge quando as partes que compõem o texto chocam-se, contradizem-se, não se ajustam. Por fim, texto coerente é o que não apresenta contradição.

Exemplos:

1 - Circuito Fechado.

Chinelo, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoadura, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. [...]

Ricardo Ramos. Circuito fechado. Contos, 1978

 2 - Pérolas de vestibulares

“O ateísmo é uma religião anônima”. 

“Os Estados Unidos tem mais de 100.000 km de estradas de ferro asfaltadas”.

“Precisa-se começar uma reciclagem mental dos humanos, fazer uma verdadeira lavagem cerebral em relação ao desmatamento, poluição e depredação de si próprio”.

 

      COESÃO
           
Ao ler um texto, percebe-se que as palavras, expressões, frases e parágrafos dão continuidade uns aos outros, se estão ligadas pelo emprego de elementos coesivos ou recursos coesivos. A coesão é, portanto, a conexão, a ligação dos elementos do texto, a costura textual, ou seja, a coesão é responsável pela harmonia entre os elementos dentro de um texto.
            Os recursos coesivos são responsáveis por promover e manter a coesão do texto e podem ser gramaticais (conjunções, numerais, sinônimos, advérbios, preposições, pronomes) e lexicais (sinônimos, termos genéricos ou específicos). Esses recursos ou elementos coesivos possuem a função de garantir a união entre as várias partes de um texto.  

Exemplo: “Um corpo estranho assemelhado a um plástico encontrado em uma garrafa de vidro de 290 mililitros de Coca-Cola gerou uma indenização de R$ 15 mil a um homem de Belo Horizonte. De acordo com a sentença, o consumidor foi a um restaurante da capital mineira em março de 2009 e, após ter ingerido 200 mililitros do refrigerante, percebeu que havia dentro da garrafa um objeto misturado ao líquido, mas tal elemento não foi identificado. O consumidor considerou que poderia ter havido dano a sua saúde, além do constrangimento o qual sofreu e procurou seus direitos”. 

Fonte: Notícias Uol.

 

O TEXTO DISSERTATIVO

Dissertar é um ato praticado pelas pessoas todos os dias. Elas procuram justificativas para a elevação dos preços, para o aumento da violência nas cidades, para a repressão dos pais. Todos se preocupam com a AIDS, a solidão, a poluição. Muitas vezes, em casos de divergência de opiniões, cada um defende seus pontos de vista em relação ao futebol, ao cinema, à música.

A vida cotidiana traz constantemente a necessidade de exposição de ideias pessoais, opiniões e pontos de vista. Em alguns casos, é preciso persuadir os outros a adotarem ou aceitarem uma forma de pensar diferente. Em todas essas situações e em muitas outras, utiliza-se a linguagem para dissertar, ou seja, organizam-se palavras, frases, textos, a fim de – por meio da apresentação de ideias, dados e conceitos – chegar a conclusões.

Dissertação implica discussão de ideias, argumentação, organização do pensamento, defesa de pontos de vista, descoberta de soluções. Para elaborar um texto dissertativo é necessário conhecimento do assunto que se vai abordar, aliado a uma tomada de posição diante dele. É o tipo de texto que analisa e interpreta dados da realidade por meio de conceitos abstratos, ou seja, a referência ao mundo real se faz por meio de conceitos amplos, de modelos genéricos.

 PARTES DE UMA DISSERTAÇÃO

A dissertação é dividida em três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão.

 INTRODUÇÃO

Constitui o parágrafo inicial do texto e é composta por uma sinopse do assunto a ser tratado. Todas as ideias devem ser apresentadas de forma sintética, pois é no desenvolvimento que elas serão detalhadas. Esta é a parte em que se apresenta a ideia principal, a tese, a qual deverá ser desenvolvida progressivamente no decorrer do texto.

A ideia principal é o ponto de partida do raciocínio. A elaboração dessa etapa inicial exige boa capacidade de síntese, pois a clareza alcançada na exposição da ideia constitui uma das formas de obtermos a adesão do leitor ao texto; não que o leitor de imediato concorde com nosso primeiro argumento – a tese –, mas, se oferecermos a ele um contato direto com a matéria que encaminhará nossa argumentação, o texto ganhará maior objetividade e rigor.

DESENVOLVIMENTO     
           
Os parágrafos de desenvolvimento são os que vão dar sustentação à tese apresentada na introdução. É esse o momento de justificar, demonstrar, provar as declarações feitas na introdução. Os parágrafos de desenvolvimento devem ser marcados pela progressão, ou seja, o texto deve ser construído de forma que vá apresentando novas informações, claras e pertinentes. Ou seja, nada de enrolação ou de repetição desnecessária do que já foi dito! Para facilitar sua argumentação, você pode separar o desenvolvimento de cada ideia em um parágrafo diferente.
            Além de apresentar fatos que fundamentem a sua dissertação, é importante que você também aponte argumentos contrários e que aponte porque, de acordo com a sua tese, eles não são verdadeiros. Afinal, dissertação não é um artigo de opinião, o que significa que as opiniões contrárias também devem ser consideradas.

CONCLUSÃO
            Parte final do texto. Mas é preciso que uma coisa fique clara: concluir não é simplesmente “terminar” o texto. A conclusão é feita de comentários que confirmam os aspectos desenvolvidos nos parágrafos anteriores. É o momento de oferecer uma solução ou demonstrar algum tipo de expectativa em relação à sua tese e ao assunto como um todo.

O texto bem sucedido constitui um “todo” significativo, ou seja, uma unidade de sentido. Cada parte do texto só faz sentido se colocada junto às outras. Não se trata de reunir fragmentos isolados. Dentro do texto, os elementos devem estabelecer ligação com as partes, ou seja, cada parágrafo precisa estar relacionado imediatamente com o seu anterior, e com o restante.

 Referência bibliográfica

MAZZAROTTO, Luiz Fernando. Nova Gramática & Literatura: aprenda a elaborar textos claros, objetivos e eficientes. 2º ed. São Paulo: DCL, 2010.





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