Manoel de Jesus[1]
Em 12 de março de 2020 foram registrados os primeiros dois casos da COVID-19 na cidade de Recife/Pe. Os pacientes são um casal, uma mulher de 66 anos e um homem de 71 que haviam chegados recente de Roma, na Itália, até então, segundo país com mais casos do vírus no mundo. No Brasil, o primeiro Lockdown, ou isolamento como é conhecido, aconteceu na ilha de Fernando de Noronha, e teve início no dia 09 de maio de 2020. Apenas um mês, separou Mato Grosso da tragédia vivenciada pelos pernambucanos. No dia 05 de junho; em Confresa, o Estado de MT presenciava atordoado o primeiro lockdown e o isolamento completo de uma cidade.
Em agosto, na segunda quinzena, assim que os
primeiros países instituíram o isolamento como medida de combate à Covid-19, a
ONU Mulheres lançou um alerta mundial, advertindo as autoridades políticas,
sanitárias e organizações sociais sobre a forma como a pandemia e o isolamento
social poderiam afetar as mulheres - tanto através da sobrecarga de trabalho
como através do incremento dos índices de violência doméstica e diminuição de
acesso a serviços de atendimento. Dados recentes publicados pela Pesquisa -IBGE,
aponta que cerca de 7 milhões de mulheres deixaram seus postos de trabalho no
início da pandemia, 2 milhões a mais do que o número de homens na mesma
situação. Levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança
Pública (FBSP), aponta um aumento de 22% nos casos de feminicídio no
Brasil
Formalmente o trabalho doméstico no Brasil, é
exclusivamente reservado às mulheres, representando o ícone de uma desigualdade
entre os gêneros masculino e feminino. Esse trabalho é marcado por dor,
opressão e adoecimento, principalmente diante da naturalização da posição
subalterna que a mulher ocupa na sociedade e na hierarquia da estrutura
familiar tradicional, que a leva à exaustão diante dos cuidados requisitados
por todos os membros da família. Muitas vezes, a própria mulher internaliza,
nas relações de poder vigentes na sociedade, que cabe a ela a obrigação desses
afazeres, dispensando muito pouco tempo para cuidar de si mesma, descansar ou
buscar meios de lazer.
Em um dos evangelhos neotestamentários (Marcos,
5: 25 à 34); nos fala de uma mulher hemorroíssa que dada à sua condição a tornou
cerimonialmente imunda, e todos quanto a tocassem tornar-se-iam imundos
também. No meio de uma grande multidão
cercando Jesus, em busca de algum tipo de milagre, dado a sua condição de pária
e rejeitada por toda a sociedade conhecida no contexto histórico em que vivia,
ela cria que se conseguisse tocar a orla do manto de Jesus, seria curada. E
enfrentando as dificuldades e vencendo sua rejeição social, a hemorroíssa
conseguiu realizar o seu intento. A atitude desta mulher, das pessoas em volta
de Jesus, e a reação dos discípulos do Mestre, conforme registrados no texto,
nos serve para revelar que há um mundo de diferença entre o contato geral com
Jesus e o contato realizado através da fé. Já se vão mais de mil anos e as
mulheres em situação de isolamento social, continuam insistindo na busca da
orla de uma túnica com a qual possam cobrir-se com um retalho de refrigério, por menor que seja, de esperança de dias melhores,
mesmo cerceadas pelos seguidores separatistas sociais. Tomando como comparativo
a mulher hemorrágica do relato, a chamada “sexo frágil” sempre enfrentou
preconceitos ao longo da história.
Com o agravante do estado pandêmico em que se
encontra o Brasil, as mulheres socialmente vulneráveis, de forma geral estão
enfrentando um novo tipo de preconceito – a discriminação pandêmica, vendo cada
vez mais distante a possibilidade de viverem dias melhores, e a constatação
desta realidade está criando um estado de ansiedade e de culpa interior
alimentado pelas diferenças que se
impõem à mulher dentro de uma ótica de subjugação social mais pesada e não
menos cruel que tem sido a realidade da pandemia do Covid -19 dentro de cada
lar.
A maioria das
mulheres, além de conviver com os sintomas, com o medo dos efeitos desse novo
vírus, que ainda não tem uma medicação cem por cento eficaz, têm que conviver
com o preconceito e, mesmo depois de curadas, sobreviverem com a
discriminação.
PRECONCEITO
DISCRIMINAÇÃO |
||
SIGNIFICADO |
O
preconceito é uma opinião feita de forma superficial em relação a determinada
pessoa ou grupo, que não é baseada em uma experiência real ou na razão. |
A
discriminação refere-se ao tratamento injusto ou negativo de uma pessoa ou
grupo, por ela pertencer a certo grupo (como etnia, idade ou gênero). É o
preconceito ou racismo em forma de ação. |
Motivo |
Baseado
na ignorância ou em estereótipos. |
Pode
ser causada pelo racismo ou preconceito para com pessoas de diferente idade,
gênero, raça, cor da pele, habilidades, orientação sexual, educação, local de
nascimento, estado civil ou antecedentes familiares. |
Resultados |
Pode
resultar em racismo ou discriminação de um determinado grupo. |
Conduz
à rejeição e exclusão de um certo grupo de pessoas, com base na etnia,
causando efeitos adversos como escravidão, guerras e xenofobia, assim como
causar o bullying, segregação e exclusão social, etc. |
Manifestação |
Como
crença. |
Ação. |
Natureza |
Não
consciente. |
Consciente
e não consciente. |
Ação legal no
Brasil |
Pode
ser levado à justiça, de acordo com a Lei 9.459/
1997.. |
|
Exemplo |
Uma
pessoa achar que alguém com obesidade não emagrece apenas porque é
preguiçosa. |
Uma
pessoa ser considerada mais violenta apenas pela cor da pele. O fato de
homens e mulheres receberem salários diferentes para realizar o mesmo
trabalho. |
Obs.: Lei 9.459/
1997 -
Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes
resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. |
[1]
- Evangelista Manoel de Jesus – Especialista
em Gestão Educacional e Empresarial – Faculdade EDUVALE/Jaciara-MT; e
especialista em Gestão Pública – IFMT/MT. Bacharel em Administração – Faculdade
EDUVALE/Jaciara-MT; e Discente do curso de Direito – INVEST/Cuiabá_MT
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