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sábado, 6 de março de 2021

MULHERES; PANDEMIA E O PRECONCEITO.

 

Manoel de Jesus[1]

 

Em 12 de março de 2020 foram registrados os primeiros dois casos da COVID-19 na cidade de Recife/Pe. Os pacientes são um casal, uma mulher de 66 anos e um homem de 71 que haviam chegados recente de Roma, na Itália, até então, segundo país com mais casos do vírus no mundo. No Brasil, o primeiro Lockdown, ou isolamento como é conhecido, aconteceu na ilha de Fernando de Noronha, e teve início no dia 09 de maio de 2020. Apenas um mês, separou Mato Grosso da tragédia vivenciada pelos pernambucanos. No dia 05 de junho; em Confresa, o Estado de MT presenciava atordoado o primeiro lockdown e o isolamento completo de uma cidade.

Em agosto, na segunda quinzena, assim que os primeiros países instituíram o isolamento como medida de combate à Covid-19, a ONU Mulheres lançou um alerta mundial, advertindo as autoridades políticas, sanitárias e organizações sociais sobre a forma como a pandemia e o isolamento social poderiam afetar as mulheres - tanto através da sobrecarga de trabalho como através do incremento dos índices de violência doméstica e diminuição de acesso a serviços de atendimento. Dados recentes publicados pela Pesquisa -IBGE, aponta que cerca de 7 milhões de mulheres deixaram seus postos de trabalho no início da pandemia, 2 milhões a mais do que o número de homens na mesma situação. Levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), aponta um aumento de 22% nos casos de feminicídio no Brasil

Formalmente o trabalho doméstico no Brasil, é exclusivamente reservado às mulheres, representando o ícone de uma desigualdade entre os gêneros masculino e feminino. Esse trabalho é marcado por dor, opressão e adoecimento, principalmente diante da naturalização da posição subalterna que a mulher ocupa na sociedade e na hierarquia da estrutura familiar tradicional, que a leva à exaustão diante dos cuidados requisitados por todos os membros da família. Muitas vezes, a própria mulher internaliza, nas relações de poder vigentes na sociedade, que cabe a ela a obrigação desses afazeres, dispensando muito pouco tempo para cuidar de si mesma, descansar ou buscar meios de lazer.

Em um dos evangelhos neotestamentários (Marcos, 5: 25 à 34); nos fala de uma mulher hemorroíssa que dada à sua condição a tornou cerimonialmente imunda, e todos quanto a tocassem tornar-se-iam imundos também.  No meio de uma grande multidão cercando Jesus, em busca de algum tipo de milagre, dado a sua condição de pária e rejeitada por toda a sociedade conhecida no contexto histórico em que vivia, ela cria que se conseguisse tocar a orla do manto de Jesus, seria curada. E enfrentando as dificuldades e vencendo sua rejeição social, a hemorroíssa conseguiu realizar o seu intento. A atitude desta mulher, das pessoas em volta de Jesus, e a reação dos discípulos do Mestre, conforme registrados no texto, nos serve para revelar que há um mundo de diferença entre o contato geral com Jesus e o contato realizado através da fé. Já se vão mais de mil anos e as mulheres em situação de isolamento social, continuam insistindo na busca da orla de uma túnica com a qual possam cobrir-se com um retalho de refrigério, por menor que seja, de esperança de dias melhores, mesmo cerceadas pelos seguidores separatistas sociais. Tomando como comparativo a mulher hemorrágica do relato, a chamada “sexo frágil” sempre enfrentou preconceitos ao longo da história.

Com o agravante do estado pandêmico em que se encontra o Brasil, as mulheres socialmente vulneráveis, de forma geral estão enfrentando um novo tipo de preconceito – a discriminação pandêmica, vendo cada vez mais distante a possibilidade de viverem dias melhores, e a constatação desta realidade está criando um estado de ansiedade e de culpa interior alimentado pelas diferenças  que se impõem à mulher dentro de uma ótica de subjugação social mais pesada e não menos cruel que tem sido a realidade da pandemia do Covid -19 dentro de cada lar.

A maioria das mulheres, além de conviver com os sintomas, com o medo dos efeitos desse novo vírus, que ainda não tem uma medicação cem por cento eficaz, têm que conviver com o preconceito e, mesmo depois de curadas, sobreviverem com a discriminação. 

 

                                        PRECONCEITO                                 DISCRIMINAÇÃO

 

 

SIGNIFICADO

 

O preconceito é uma opinião feita de forma superficial em relação a determinada pessoa ou grupo, que não é baseada em uma experiência real ou na razão.

A discriminação refere-se ao tratamento injusto ou negativo de uma pessoa ou grupo, por ela pertencer a certo grupo (como etnia, idade ou gênero). É o preconceito ou racismo em forma de ação.

Motivo

Baseado na ignorância ou em estereótipos.

Pode ser causada pelo racismo ou preconceito para com pessoas de diferente idade, gênero, raça, cor da pele, habilidades, orientação sexual, educação, local de nascimento, estado civil ou antecedentes familiares.

Resultados

Pode resultar em racismo ou discriminação de um determinado grupo.

Conduz à rejeição e exclusão de um certo grupo de pessoas, com base na etnia, causando efeitos adversos como escravidão, guerras e xenofobia, assim como causar o bullying, segregação e exclusão social, etc.

Manifestação

Como crença.

Ação.

Natureza

Não consciente.

Consciente e não consciente.

Ação legal no Brasil

Pode ser levado à justiça, de acordo com a Lei 9.459/ 1997..

Exemplo

Uma pessoa achar que alguém com obesidade não emagrece apenas porque é preguiçosa.

Uma pessoa ser considerada mais violenta apenas pela cor da pele. O fato de homens e mulheres receberem salários diferentes para realizar o mesmo trabalho.

Obs.: Lei 9.459/ 1997 - Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.



[1] - Evangelista Manoel de Jesus – Especialista em Gestão Educacional e Empresarial – Faculdade EDUVALE/Jaciara-MT; e especialista em Gestão Pública – IFMT/MT. Bacharel em Administração – Faculdade EDUVALE/Jaciara-MT; e Discente do curso de Direito – INVEST/Cuiabá_MT


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