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quinta-feira, 18 de março de 2021

OLHANDO PARA A FRENTE


 Como podemos utilizar nossas más experiências do passado sem deixarmo-nos condicionar por elas, para atingirmos nossos ideais do presente e do futuro?


A revista Pesquisa FAPESP (publicada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) em sua edição de 26 março de 2020, exatos 12 meses, trouxe em suas páginas uma comparação histórica das causas e dos efeitos da pior epidemia do século passado (XIX), a gripe espanhola; com a moderna COVID-19, epidemia atual que assola o mundo e em particular o Brasil.

“A pandemia do coronavírus guarda semelhanças com a da gripe espanhola, também de alcance mundial, com um impacto devastador: infectou cerca de 500 milhões de pessoas, o equivalente a um terço da população mundial na época, e matou entre 25 a 50 milhões, em geral com 20 a 40 anos de idade, de 1918 a 1920.

Na cidade de São Paulo, em poucos meses a epidemia matou 5.300 paulistanos, o equivalente a 1% da população da capital, e foi tão intensa que os mortos se acumulavam nas ruas até serem recolhidos; a cidade do Rio de Janeiro viveu uma situação similar.

Embora em outro contexto histórico – não havia equipamentos de proteção para quem atendia os doentes, as pessoas morriam em geral em suas próprias casas e não se conhecia ainda o material genético dos vírus –, a epidemia de gripe também gerou desorganização econômica e social, já que os portos, o transporte e outros serviços públicos pararam de funcionar.

“Em todo o mundo, o discurso das autoridades do governo sobre o controle da epidemia conflitava com a imensa dificuldade das equipes dos serviços de saúde em atender as pessoas doentes”, diz a historiadora Anny Torres, professora das universidades federais de Minas Gerais (UFMG) e de Ouro Preto (UFOP) e autora do livro Influenza espanhola e a cidade planejada: Belo Horizonte, 1918 (Fino Traço, 2007).

A minha escolha, e a necessidade de transcrever, ipsis litteris, alguns trechos do estudo supra citado, advém de uma citação feita pelos âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos, – do Jornal Nacional, edição do dia 17 de março corrente, que foi ao ar pela Rede Globo de Televisão. Para os conhecedores do estudo, Bonner e Vasconcellos pareciam ler um trecho cruel e mais estarrecedor da situação brasileira no século passado, mas não, eles, os âncoras, não mais em 1920; mas sim em pleno século 21, estavam falando e mostrando uma realidade atual, minha e sua, em pleno ano de 2021!!!

Não existe nada tão perfeito quanto uma retrospectiva feita pelos repórteres da Rede Globo de TV, não é mesmo? Porém Bonner e Vasconcellos, não estavam fazendo retrospectiva e nem lendo as páginas do documentário supra citado, eles falavam de um Brasil real. Se tivéssemos essa percepção há três anos atrás, poderíamos ter evitado muitas ou a maioria das armadilhas – políticas e sociais nas quais caímos até agora. Poderíamos ter feito muito mais se tivéssemos então compreendido o que nos esperava e que agora já sabemos. E, obviamente, ficamos torcendo por uma chance de voltar atrás e recomeçar. Esta é a natureza da retrospectiva, mas não a do tempo.

Contudo, o lado positivo disso é que agora sabemos que alguns adquiriram mais conhecimento, outros um grau maior de sabedoria, porém todos ganharam mais experiência com o trato da individualidade no contexto da coletividade. Sabemos, os que permanecerem com vida após a passagem pelo Covid 19, que agora somos mais bem preparados para lidar construtivamente com nossa situação atual e com futuras experiências endêmicas. Um pensamento interessante é que o bom discernimento vem da experiência e a experiência, embora ensinada no coletivo é adquirida no individual!

O homem sábio, entende que todo dia é uma oportunidade de crescimento. Encara as dificuldades presentes, independente das quais pode se beneficiar, na medida em que ganha maior entendimento e habilidade para controlar acontecimentos novos e difíceis.

Entretanto comparando a história das pandemias, de 1918/1920, com a atual, descobrimos que o conhecimento científico se desenvolveu, assim como a arte da sociologia política. Entretanto, felizmente a vida, com ou sem pandemia, está sempre nos impulsionando para conquistas cada vez maiores e objetivos mais elevados.

A vida não concerne em simples repetições de experiências pregressas, as quais muitas vezes se revelam de pouco valor. Está sempre apresentando novas experiências com as quais podemos crescer para o futuro, desde que aceitemos os desafios que ela nos apresenta no presente.

       

Os maiores homens do passado foram aqueles que ajudaram a moldar o mundo que conhecemos hoje. E o homem de hoje só será lembrado como homem no futuro, se ajudar moldar o mundo de amanhã, caso contrário, com ou sem epidemia, será meramente mais um número.

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