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domingo, 28 de março de 2021

CONSTRUINDO PONTES NA PANDEMIA


Costuma-se considerar uma ponte como uma estrutura física usada para ligar dois pontos. A necessidade de haver pontes geralmente se baseia nas circunstâncias que separam os dois pontos e na utilidade desses pontos no que se refere a sua aceitação por parte dos homens. O uso mais comum de uma ponte é o de servir de ligação entre dois pontos separados por um rio ou lago, de modo que possamos nos mover de um ponto ao outro com o mínimo de esforço e o máximo de comodidade. Uma ponte pode também servir para unir as duas beiradas de um outro espaço cuja transposição seria dificultada sem a mesma.

Em outras palavras, a ponte é um elo de ligação. É um elo do qual só se sente sua falta quando dela não se dispõe. Resumindo, podemos afirmar, que é o recurso que literalmente liga dois pontos. Podemos também recorrer à figura da ponte quando estamos buscando estabelecer a relação entre dois conceitos ou ideias diferentes. Os meios pelos quais conceitos ou ideias se relacionam geralmente são considerados em termos de conhecimento e, nesse sentido, o conhecimento se torna uma ponte.

Qualquer coisa que ligue dois conceitos ou duas condições, de modo que se relacionem em termos de conhecimento, pode ser considerada como uma ponte. Porém uma das pontes mais difíceis de se construir, é a que liga o acesso entre os mundos, o material e o espiritual. Ligar ou relacionar o mundo material com o mundo espiritual ou imaterial, na maioria das vezes é visto como meninice ou loucura.

Um dos modos, seguramente o mais conhecido e o menos explorado adequadamente, é a experiência do convívio cristão que atua como uma ponte por nos possibilitar reconhecer a existência de duas naturezas do ser: a material e a espiritual. Dentro desta teórica o homem não se manifesta como uma entidade física independente, nem como uma alma independente. Enquanto vive aqui na Terra, o homem se expressa como corpo material e alma espiritual, e deve coordenar essas duas naturezas do ser na busca de um equilíbrio harmonioso com outros seres humanos para assim extrair o máximo de sua finalidade como ponte na união destes dois mundos – a saber, o corpo e a alma.

Um dos resultados da pandemia é a sensação que sentimos de estar em um cativeiro dentro dos muros do eu; isolados, vulneráveis, alguns se sentindo como um corpo sem alma, outros com o sentimento de uma alma despida do corpo. Inegavelmente ambas as sensações atuam como um imenso precipício, uma enorme cratera, que indicam a necessidade urgente de uma ponte que sirva como elo para o seu reencontro. Embora hoje tenhamos ao nosso dispor tecnologias e facilidades de comunicação nunca visto antes, nunca as pessoas se sentiram tão solitárias como na atualidade. Estão faltando pontes para ligar o mundo material e espiritual e sobrando muros de isolamento e precipícios de destruição entre os homens.

Tive a benção de conviver com alguns religiosos na escola Pio XII, em Itambacuri/MG onde aprendi com um sábio professor da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, que “as pessoas mais importantes para nós são aquelas que se fazem de ponte e nos ajudam na travessia. E, depois de terem cumprido sua missão, desmoronam-se com prazer, permitindo que cada um de nós possa construir suas próprias pontes”. Enquanto não percebermos a ponte que existe em cada um de nós – mesmo na redoma da pandemia que convivemos, seremos incapazes de perceber a imensa extensão da existência que transcende o mundo material que nos prende.

 

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