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domingo, 10 de dezembro de 2017

DIA DA BÍBLIA


"Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome". João 20:30,31

sábado, 3 de junho de 2017

CORROMPIDOS E CORRUPTORES: AS DUAS FACES DA MESMA MOEDA

“Chamam bem ao mal que fazem as suas mãos; o príncipe exige, e o juiz torna como lhe fazem, e o grande manifesta (descaradamente)o desejo de sua alma, e perturbam o pais” (Miquéias 7:3) – Bíblia Sagrada – Edições Paulinas, 1963.    
“Com as mãos prontas para fazer o mal, o governante exige presentes, o juiz aceita suborno, os poderosos impõem o que querem; todos tramam em conjunto”. (Miquéias 7:3) - – Bíblia de Referência Thompson, 1993.

Desde a sua queda no Eden, o ser humano tornou-se corrupto, susceptível a todo tipo de maldade, passando a viver por conta de seus próprios desejos, afastando-se  gradativamente da vontade de Deus.
Através dos seus profetas e dos pais da Igreja Cristã, no Velho e no Novo Testamento, Deus sempre conclamou seu povo para cuidar das comunidades mais vulneráveis da sociedade,  buscando e praticando a justiça. Encontramos o profeta Isaias clamando: “Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas”. (Isaías 1.17) Ainda ecoam em nossos ouvidos as palavras de Tiago; “Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai, por vossas misérias, que sobre vós hão de vir.As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas de traça... Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu”. (Tiago 5:1-6).
Na ultima quinzena, o Brasil, e em particular os brasileiros foram sacudidos com a delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS - a popular FRIBOI que revelou uma faceta insana da psicopatia humana quando da quebra do pilar máster do marco do Estado Democrático de direito que é exatamente o fundamentado na acertativa bíblica: cuidar das comunidades mais vulneráveis da sociedade”; em função do beneficio ilegal e imoral em favor de alguns representantes dos três poderes que em tese teriam o sagrado dever de defender o povo e os interesses da nação brasileira.
Os irmãos Batistas corromperam representantes da Toga, do  Congresso e do Executivo através de práticas comerciais desonestas, (“Ainda há na casa do ímpio tesouros da impiedade, e medida escassa, que é detestável? Seria eu limpo com balanças falsas, e com uma bolsa de pesos enganosos?” (Miquéias 6:10,11); com o abuso dos cargos públicos através do suborno (“Os seus chefes dão as sentenças por suborno...” (Miquéias 3.11a), e e a conspiração das pessoas no poder para o seu próprio benefício (“Chamam bem ao mal que fazem as suas mãos; o príncipe exige, e o juiz torna como lhe fazem, e o grande manifesta (descaradamente)o desejo de sua alma, e perturbam o pais” (Miquéias 7:3). Práticas estas condenadas por Deus, pois as mesmas defraudam as pessoas comuns se apoderando dos seus meios de vida (“Sim, a verdade desfalece, e quem se desvia do mal arrisca-se a ser despojado...” (Isaías 59:15a) – “E cobiçam campos, e roubam-nos, cobiçam casas, e arrebatam-nas; assim fazem violência a um homem e à sua casa, a uma pessoa e à sua herança. (Miquéias 2:2).
Corruptores e corrompidos são os dois lados de uma mesma moeda. Onde há corrupção, há corrompidos e corruptores. Do lado do corruptor existe desonestidade e abuso de poder econômico, ao usar do dinheiro para obter favor, facilitação ou vantagem ilegal. Do lado do corrompido, há também desonestidade associada à ganância, que o leva ao ganho indevido e na maioria das vezes de forma ilegal.

Alguns dados da corrupção
É muito difícil quantificar a corrupção, admitem ONG´s como Transparência Brasil e Contas Abertas. Mas podemos citar alguns dados:
- A corrupção consome entre R$ 50 bilhões e R$ 85 bilhões por ano, segundo estudo de 2010 da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Isso corresponde a 2,3% de toda riqueza produzida no Brasil em um ano.
- No Índice de Percepção da Corrupção (IPC) de 2013, o Brasil tem nota 42, ficando em 72º lugar dentre as nações. A nota varia entre zero (um país mais íntegro) a 100 (um país mais corrupto).
- Diariamente, 230 crianças com menos de cinco anos poderiam ser salvas se os prejuízos financeiros com a corrupção fossem disponibilizados para se alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
- Estima-se que os países em desenvolvimento perderam cerca de 850 milhões de dólares em 2010, devido aos fluxos financeiros ilícitos (dados do Banco Mundial).

Como fazer para combater a corrupção?
O combate à corrupção passa por ações coletivas, desenvolvidas pela sociedade, efetuadas de modo sistêmico, contra a contaminação das práticas, dos processos, dos negócios, da aplicação da lei e da justiça. E, certamente, implica também em atitudes que, como cidadãos e cristãos, somos chamados a contribuir pessoalmente.

Por onde começar.
Cada cristão, seguidor de Jesus Cristo, é luz e sal na sociedade onde vive. Temos o dever de ser vigilantes e participar da vida em sociedade, fiscalizando e denunciando atos de corrupção, inclusive no espaço eclesiástico, nas denominações, nas instituições, nas empresas de comunicação e na política local.

O que o cristão deve esperar (e contribuir) a partir da comunidade onde convive:
- Para sermos luz e sal devemos ser intolerantes com qualquer tipo de corrupção, lembrando-nos que “o juízo começa pela casa de Deus” (1 Pedro 4.17).
- Contribuir para que a igreja seja profeta do Senhor contra a corrupção, mas que seja a primeira a dar o exemplo em suas práticas eclesiásticas e vida cotidiana.
- Procurar evitar os políticos que procuram, e os lideres que de certa forma colaboram, com o envolvimento irregular da Igreja na politica. Atividades “inocentes” como Marcha para Jesus, participações em algumas solenidades ecumênicas, na maioria das vezes escondem segundas intenções por parte dos líderes envolvidos.
- Orar para que as igrejas gerem filhos de Deus comprometidos com um mundo mais solidário e com menos cobiça, que é fonte de corrupção.
- Sermos intolerantes com a impunidade de quem quer que seja.
- Sermos solidários com todos que sofrem as consequências da corrupção, especialmente os mais pobres.
- Contribuir para que a igreja em geral e os cristãos em particular apoiem reformas políticas como instrumentos preventivos contra a corrupção.

Ps:   As citações bíblicas não identificadas são constantes da Bíblia Sagrada – Edições Paulinas, 1963.

Manoel de Jesus, teólogo e administrador.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

REFORMA DA PREVIDÊNCIA: A POSIÇÃO DA IGREJA E DOS CRISTÃOS SOB A PERSPECTIVA BÍBLICA.


Manoel de Jesus

 

 

O CONIC (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs no Brasil), a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), representante da Igreja Católica, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e o COFECON (Conselho Federal de Economia) publicaram na segunda quinzena de Abril próximo passado, uma nota conjunta na qual criticaram a reforma da Previdência proposta pelo governo e pediram que fosse feita uma auditoria nas contas da Previdência Social. Juntas; CONIC, CNBB, OAB e COFECN defendem que "sem números seguros e sem a compreensão clara da gestão da Previdência torna-se impossível uma discussão objetiva e honesta" sobre a reforma.Como era mister acontecer, o Governo, diante do peso e influência politica/social da nota, veio imediatamente e ocupou estrategicamente a chamada grande mídia nacional e contra argumentou de forma veemente e contundente, o argumento usado pelas instituições. O governo negou que a reforma da Previdência vá prejudicar a população mais pobre. O próprio presidente Michel Temer afirmou que esse é um argumento "mentiroso”. “Convenhamos, ninguém quer fazer mal ao país. Dizem que essa reforma da Previdência vai pegar os pobres. Vou usar uma palavra forte: mentira. Mentira, porque 63% do povo brasileiro ganha salário mínimo, portanto, [a reforma] não vai atingir os pobres. Os que resistem e fazem campanha são os mais poderosos, são aqueles que ganham mais", disse o presidente[1].
Em que pese o papel do CONIC, da CNBB, da OAB, do COFECN e da própria Secretaria de Governo da Presidência e a contundente verborragia presidencial, a Igreja tem a obrigação e o dever de cumprir, ou procurar cumprir seu papel como representante místico/espiritual no sentido de transcender o debate sobre a previdência para além da disputa ideológico-partidária.
Essa transcendência torna-se necessária porquanto a premissa  Bíblica vetero ou neotestamentária  exige do leitor uma atitude quiçá perspicaz: É preciso colocar um pé na nossa realidade, coisa que fazemos com facilidade e sem muita esforço, e outro na realidade da época bíblica, o que exige uma engenharia mental um pouco mais exigente.
A aposentadoria, como a conhecemos,  que supõe um estado social, que recolhe as taxas e depois cuida das pessoas que não podem mais trabalhar; na época bíblica, praticamente não existia. Antigamente os governos eram assíduos em recolher taxas, mas o cuidado com o bem estar social era mínimo. Além disso, o sistema de previdência é típico de uma sociedade empresarial, feita de patrões e empregados. PREVIDENCIA, APOSENTADORIA são realidades quase ausentes no contexto vetero ou neotestamentário. Praticamente, no contexto bíblico, a sociedade era baseada numa cultura rural, onde cada família sobrevivia graças ao seu próprio trabalho e cada um cuidava dos seus próprios anciãos.
Nesse contexto é importante falar sobre a importância que as pessoas anciãs tinham na Bíblia oriundo do próprio privilégio da idade (presbèion) porém acima de tudo, também da dignidade (Gênesis 5,14; Êxodo 4,1). Neste contexto, cabe ao ancião (presbèion) a função jurídica. Eram eles que se sentavam junto as portas das cidades, onde se discutiam todas as questões da comunidade (Deuteronômio 19). Diz Provérbios que a “velhice é a coroa dos justos” (10,27). Até mesmo Deus, em Daniel 7,9, é chamado de 'ancião'.
Entretanto não podemos omitir que a falta de atenção do “estado” às pessoas idosas, com certeza provocava muitas situações dramáticas, contrárias ao plano divino. As viúvas são um emblema dessa situação. E a Bíblia orienta que elas sejam respeitadas e assistidas. Já no livro de Deuteronômio lemos que uma parte do dízimo seja dada a elas, para que possam viver dignamente (Dt. 26:12-13) e Isaías exige que seja defendida a sua causa (1,17 - veja também Jeremias 22,3 e Zacarias 7,10). O mesmo acontece com o Novo Testamento, sobretudo em Timóteo, com o apelo de Paulo a honrá-las (1Timóteo 5). O próprio Jesus, na parábola conhecida como “O bom samaritano” - Lucas 10:30 – 37, nos remete à condição de “responsáveis por aqueles sem vez, sem voz e sem representatividade”, independente da chancela do estado.  
Conforme exposto, no contexto bíblico não existe um estado social de direito que ampara os mais fracos, dentre os quais os anciões, as viúvas, os órfãos, os acidentados ou vitimados por uma hecatombe qualquer. A aposentadoria, naquela época, era uma utopia. A mensagem bíblica convoca aqueles que abraçam a fé em Deus a suprir essa deficiência. Esse apelo, com certeza, vale ainda hoje, pois infelizmente o estado não proporciona a assistência que as pessoas carentes merecem, segundo o projeto de Deus.
O exegeta, ou o estudioso sem maiores pretensões, precisa fomentar a consciência de que temos uma doutrina social na Igreja dentro de sua multidisciplinaridade moderna que contempla alguns vieses inexistentes na época da fundação da Igreja do Caminho, na organização da Igreja do Império, na convenção de Niceia ou no bojo da Igreja da Reforma. Muitos cristãos não têm consciência de toda a reflexão social que a Igreja faz. Por isto se faz necessário conscientiza-los de que, para ser sinal de Salvação no mundo, é preciso ser político; não político-partidário ou defensor desta ou daquela ideologia; mas cristão/político: defender a humanidade e seus direitos dentro da organização social e econômica em que se vive defendendo os direitos que são próprios de todo o ser humano conforme explicito no contexto vetero ou neotestamentário.


*Manoel de Jesus é teólogo e administrador.


[1] Sites VALOR ECONÔMICO e UOL, em São Paulo 19/04/201713h01 https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2017/04/19/oab-e-igreja-criticam-reforma-da-previdencia-e-pedem-auditoria-no-inss.htm?cmpid=copiaecola&cmpid=copiaecola

quinta-feira, 4 de maio de 2017

REFORMA TRABALHISTA – JESUS VOTARIA COMO VOTOU A “BANCADA EVANGÉLICA”?

         A Câmara dos Deputados aprovou, na noite do dia 26 de aAbril, por 297 votos a 177, o texto principal do projeto enviado pelo governo Temer que flexibilizou a legislação trabalhista no Brasil. O texto ainda está sujeito à mudanças, devido aos 17 destaques votados aparte pelos deputados, que dependem de aprovação do Congresso e sanção do próprio presidente Temer.
    Segundo a FRENTAS - Frente Associação da Magistratura e do Ministério Público; que representa mais de 40 mil magistrados, entre juízes, promotores e procuradores, foram “criadas/ampliadas novas formas de contratos de trabalho precários, que diminuem, em muito, direitos e remuneração, permitindo, inclusive, pagamento abaixo do salário mínimo mensal, o que concorreria para o aumento dos já elevados níveis de desemprego e de rotatividade no mercado de trabalho”. Ainda segundo FRENTAS, “trata-se de um ataque que passa pela supressão de direitos materiais e processuais hoje constantes de lei (CLT) e até mesmo no que deixa de ser aplicado do Código Civil na análise da responsabilidade acidentária, optando-se pela tarifação do valor da vida humana, em vários pontos passando também pela evidente agressão à jurisprudência consolidada dos tribunais regionais e do Tribunal Superior do Trabalho”, afirmam as associações do judiciário.
O trabalho sempre teve importância fundamental na existência do homem, sob múltiplos aspectos e por várias razões. Seja como meio de subsistência e, como tal, condicionante do ser humano, seja como fator de sua realização pessoal e de sua dignidade, por isto desde tempos imemoriais constitui causa de preocupação dos responsáveis pelo destino do homem e, dessa maneira, sua referencia é encontrada  desde o Código de Hamurabi, da Mesopotâmia, bem como na Bíblia.
Procuramos, como você leitor, entender a postura da “Bancada da Fé”, ou “Bancada da Bíblia” no parlamento federal, numa votação onde 70% dos deputados evangélicos da Câmara dos Deputados – deste país onde o estado se diz laico– votou a favor da reforma trabalhista, Foram 231 votos que garantiram a reforma trabalhista, dos quais, 79 evangélicos, ou seja, a bancada da Bíblia sozinha foi responsável por quase 40% do total necessário pra se obter essa aprovação. Vale lembrar que estes deputados declaradamente “evangélicos” são ativistas nas denominações das quais são membros.
A maioria destes deputados evangélicos são professores de Filosofia ou advogados (doutores pela lei) dai peço vênia para reportamos às memorias de Platão, Aristóteles e Moisés, as quais em mister de seu ofício máster devem conhecer:

“Na Grécia, Platão e Aristóteles entendiam que o trabalho tinha sentido pejorativo. Envolvia apenas a força física. A dignidade do homem consistia em participar dos negócios da cidade por meio da palavra. Os escravos faziam o trabalho duro, enquanto os outros poderiam ser livres. O trabalho não tinha o significado de realização pessoal. As necessidades da vida tinham características servis, sendo que os escravos é que deveriam desempenhá-las, ficando as atividades mais nobres destinadas às outras pessoas, como a política. A ideologia do trabalho manual como atividade indigna do homem livre foi imposta pelos conquistadores dóricos (que pertenciam à aristocracia guerreira) aos aqueus. (MARTINS, 2004, p. 38).  

Moisés registrou no livro de Genesis as seguintes palavras de Deus: “E a disse a Adão: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei dizendo: Não comerás dela; maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela todos os dias da tua vida. 18: Ela te produzirá espinhos e abrolhos; e comerás das ervas do campo. 19: Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás...” Genesis 3: 17 – 19. (PAULINAS, 1963, p. 22).
Posteriormente, o filósofo Immanuel Kant registrou que “O homem é o único animal que precisa de trabalhar”.  Lembrando que a palavra trabalho, citada na Bíblia e nos filósofos vem do latim “tripalium”, espécie de instrumento de tortura de três paus ou uma canga que pesava sobre os animais.
Nesta esteira do “tripalium”, a nova reforma trabalhista faz com que os “Acordos coletivos prevalecem sobre a legislação”. Espinha dorsal da reforma, cria a figura dos acordos coletivos negociados entre trabalhadores e empresas, cujas decisões acordadas prevaleçam sobre as previsões da CLT. Esses acordos chegam a contemplar um total de 40 questões cruciais tais como jornadas maiores de trabalho, de até 12 horas diárias, desde que elas não somem mais de 220 horas mensais (contando as horas extras). Hoje o limite é 44 horas semanais, com no máximo 8 horas de trabalho por dia. Seria de bom aviltre lembrar que nestes acordos, via de fato, há maior  possibilidade das decisões tomadas pelo empregado de sofrer a interferência do empregador.  
Aqui também deve se permitir uma lembrança nefasta, das votações na Câmara Federal com participação ativa da maioria da “Bancada da Bíblia”, a aprovação da Lei da Terceirização, quiçá a maior beneficiaria da nova Reforma Trabalhista proposta por Temer  
 Uma vez pensado o trabalho como filosofia e doutorado, em que pese a etimologia da palavra “trabalho – tripalium”; reportaremos à algumas assertivas bíblicas e posturas históricas que jugamos condicentes com o pensamento cristão.
Com o Tratado de Versalhes (1919), em que foi positivado e criada a Organização Internacional do Trabalho (OIT) as conquistas dos trabalhadores, homens comuns, foram se ampliando e ganhando jurisprudência, sobretudo em função da ética e da moral que permeiam os sentimentos humanísticos e cristãos.
Nesta esteira a convenção 29 da OIT de 1930, define o trabalho escravo “como  todo trabalho forçado ou exigido de uma pessoa sob a ameaça de sanção e para o qual não se tenha oferecido espontaneamente”. O Código Penal Brasileiro no seu Art.149 define da seguinte maneira o trabalho escravo: “Art. 149: Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva... (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)”.
Em voltando à Bíblia, poderíamos citar pelo menos uns cem versículos alusivos à proteção do homem que trabalha, entre eles, Deuteronômio (cap. 24, vers. 14 e 15), onde se lê: “Não negarás a paga do indigente e do pobre, quer ele seja teu irmão, quer um estrangeiro... , mas pagar-lhe-ás no mesmo dia o preço do seu trabalho antes do sol posto, porque é pobre e com isso sustenta a sua vida; a fim de que ele não clame contra ti ao Senhor e (isto) te seja imputado a pecado”. No Novo Testamento, na Epístola de Tiago (cap. 5, vers. 4), o apóstolo adverte os maus patrões: “Eis que o salário dos trabalhadores, que ceifaram os vossos campos, o qual foi defraudado por vós, clama, e o clamor deles subiu até aos ouvidos do Senhor dos exércitos”.  No livro de Lucas é atribuída a Jesus esta afirmação: Digno é o trabalhador do seu salário.(Lucas 10:7).
Na teoria econômica do capitalismo clássico, que tem em Adam Smith seu mais destacado doutrinador, o trabalho é tido como padrão universal dos valores de troca. Em contra ponto “O trabalhador torna-se tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão”. Na teoria marxista, “O trabalhador torna-se uma mercadoria tanto mais barata, quanto maior número de bens produz. Com a valorização do mundo das coisas, aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens”. (MARX, 2001)
Voltando à “Bancada da Bíblia”, alguns (Jair Bolsonaro e Marcos Feliciano, entre eles) se absteram de votar (vale lembrar que abstenção é um voto que conta a favor sem que você tenha que declarar seu voto. É uma maneira de ficar em cima do muro pra não perder voto), mas foram contados como quórum para dar legalidade à sessão.
Como disse Lacordaire, “entre o forte e o fraco, entre o rico e o pobre, é a liberdade que escraviza, é a lei que liberta”.  Graças aos sofismas e habilidades humanas vale lembrar que liberdade e lei sob a ótica do homem podem ser totalmente volúveis e mutáveis, porém o nosso Deus é IMUTÁVEL e ETERNO assim como também os são sua LIBERDADE e sua LEI.

CITAÇÕES:
-  MARTINS, S. P. Direito do Trabalho. 20 ed., São Paulo: Atlas, 2004)
- MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos.Tradução de Alex Marins. São Paulo: Martin Claret, 2001.(A obra prima de cada autor).
- BÍBLIA SAGRADA. Edições Paulinas, 1963.16 ed., São Paulo.

Manoel de Jesus é teólogo e administrador. 

domingo, 30 de abril de 2017

TEOLOGIA INTEGRAL: HERESIA OU MODISMO?

É quase certo que no principio o cristianismo tenha sido visto simplesmente como mais uma seita, ou grupo, dentro de um judaísmo que já estava acostumado a uma considerável diversidade na expressão religiosa.
As diversidades; religiosa e secular, juntas, tem sido a combustão que alimenta o surgimento de novas práticas teológicas ajudando a forjar um sentido de identidade compartilhada em contraste com a sociedade em geral e à própria expressão religiosa.
O cristianismo foi vitimado por heresias clássicas como o ebionismo, docetismo, valentianismo; também pelo arianismo, donatismo e pelagianismo, entre outras, todas forjadas pela ortodoxia. Quando falo de ortodoxia, refiro-me à maneira como a Reforma estabeleceu-se, enquanto forma eclesiástica de vida e pensamento. É de considerável interesse entender o pensamento da ortodoxia reformista, em especial porque a mesma ajuda a explicar o crescente interesse religioso e cultural, sem mencionar a simpatia, pelos modismos que devidamente orquestrados se transformam em heresias; uma vez que, nesta compreensão, a heresia passa a ser vista como a ortodoxia do corajoso desfavorecido, o eco de ressonância das vozes dos grupos culturais reprimidos e oprimidos.
Analisada pelo viés da ortodoxia a Teologia Integral, ou TMI – Teologia da Missão Integral, é um conceito que vem sendo abraçado por diversas igrejas evangélicas, notadamente as inseridas nos movimentos MDA, G12 e outras nomenclaturas não menos atraentes que sugerem a aplicação dos princípios do Evangelho em todas as áreas da vida, incentivando o evangelismo que pregue a Palavra e que ofereça assistência social, psicológica e espiritual.
As diferenças entre a Teologia da Libertação e a Teologia Integral, ou TMI – Teologia da Missão Integral, consistem em que a primeira era regida pela Igreja Católica, tinha comando e serviu como fonte de oxigenação para o catolicismo brasileiro e da América Latina. No Brasil tem como ícones, o (ex) padre Leonardo Boff e Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia.  Um dos seus frutos no seio da Igreja Católica brasileira, é o Movimento Carismático cujos padrões de aplicação e obediência religiosa foram moldados em sua práxis.
Já a segunda, Teologia Integral, como dissemos anteriormente está inserida nos movimentos MDA, G12 e outros pequenos grupos, entre cujos expoentes no Brasil estão, o pastor e escritor Ariovaldo Ramos, auxiliar da Igreja Batista de Água Branca (IBAB) e um dos maiores entusiastas da TMI no Brasil e o também pastor Ariovaldo Carlos Jr, criador da Bíblia Freestyle. Ambos enfrentam sérias resistências no próprio seio interdenominacional brasileiro e não conseguiram até esta data o apoio de nenhuma chamada Convenção ou Denominação evangélica/ protestante no Brasil ou na América do Sul.
A exemplo da Libertação, cuja base era sustentada por um movimento apartidário que englobava várias correntes de pensamento interpretando os ensinamentos de Jesus Cristo como libertadores de injustas condições sociais, políticas e econômicas; a Teologia Integral ou TMI, visa uma atenção maior ao oprimido socialmente, numa práxis denominada “o Evangelho todo para o homem todo”.
A Teologia da Libertação tinha como pano de fundo, as lutas pela posse da terra, e deu origem ou/e fortaleceu grupos como o MST, - Sem Terra e/ou Sem Teto; Via Campesina, CMI – Conselho Missionário Indigenista, os STR – Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e outras vertentes então classificadas como socialistas. Na zona urbana ou rural, havia sempre um excluído socialmente, objeto dos cuidados da Pastoral da Terra ou da Pastoral da Cidade sob a égide da ação libertadora católica. A Teologia Integral, ou TMI – Teologia da Missão Integral tem como práxis a diversidade de gênero, raça, cor, preferencia sexual, etc.
Voltando à ortodoxia, refiro-me à maneira como Reforma estabeleceu-se. Enquanto forma eclesiástica de vida e pensamento, a Teologia Integral é vitima da própria seiva que a alimenta: a diversidade. Especificamente a diversidade da interpretação e das comparações. Quando Gretchen afirmou que : “Há um versículo na Bíblia que diz: "Vem a mim do jeito que você é, eu farei a obra”; sem o saber, cooperou para que a maioria dos pensadores cristãos no Brasil se voltassem para a “obra” que se opera nas diversidades. Realmente, “vem como estás”, mas não permaneça como vieste! “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”. 2º Coríntios 5:17.  “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará”. – Gálatas. 6: 7.
Concluindo: Entre as teologias, da Libertação e a Integral, há quem as compare e as coloque nos mesmos viés teológicos. Porém o que existe de fato entre as duas é uma simbiose própria dos modismos e das heresias: “Os fins justificam os meios”. Ou seja, entre o bem e o mal não há nenhuma diferença entre um ou outro, ou, se diferença há, não é essa, pois o Bem e o Mal não existem em si mesmos, cada um deles é somente a ausência do outro.

Manoel de Jesus é teólogo, administrador, autor dos livros; Caricaturas – poesias evangélicas, Jaciara Senhora da Lua – história municipalista; As Dez Virgens e A Igreja no Contexto de Hoje – escatologia; e, Gestão Eclesiástica – Estudo de Caso da Primeira Igreja Batista de Jaciara – Eclesiologia/Administração.