“Chamam bem ao mal que fazem as suas mãos; o
príncipe exige, e o juiz torna como lhe fazem, e o grande manifesta
(descaradamente)o desejo de sua alma, e perturbam o pais” (Miquéias 7:3) –
Bíblia Sagrada – Edições Paulinas, 1963.
“Com as mãos prontas para fazer o mal, o governante exige presentes, o
juiz aceita suborno, os poderosos impõem o que querem; todos tramam em
conjunto”. (Miquéias 7:3) - – Bíblia de Referência Thompson, 1993.
Desde a sua queda no Eden, o
ser humano tornou-se corrupto, susceptível a todo tipo de maldade, passando a
viver por conta de seus próprios desejos, afastando-se gradativamente da vontade de Deus.
Através dos seus profetas e
dos pais da Igreja Cristã, no Velho e no Novo Testamento, Deus sempre conclamou
seu povo para cuidar das comunidades mais vulneráveis da sociedade, buscando e praticando a justiça. Encontramos
o profeta Isaias clamando: “Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o
oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas”. (Isaías 1.17) Ainda ecoam em
nossos ouvidos as palavras de Tiago; “Eia,
pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai, por vossas misérias, que sobre vós
hão de vir.As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão
comidas de traça... Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu”. (Tiago
5:1-6).
Na ultima quinzena, o Brasil, e em particular
os brasileiros foram sacudidos com a delação premiada dos irmãos Joesley e
Wesley Batista, da
JBS - a popular FRIBOI que revelou uma faceta insana da psicopatia humana
quando da quebra do pilar máster do marco do Estado Democrático de direito que
é exatamente o fundamentado na acertativa bíblica: “cuidar
das comunidades mais vulneráveis da sociedade”; em função do beneficio
ilegal e imoral em favor de alguns representantes dos três poderes que em tese
teriam o sagrado dever de defender o povo e os interesses da nação brasileira.
Os irmãos Batistas corromperam representantes
da Toga, do Congresso e do Executivo através de práticas comerciais desonestas, (“Ainda há
na casa do ímpio tesouros da impiedade, e medida escassa, que é detestável?
Seria eu limpo com balanças falsas, e com uma bolsa de pesos enganosos?” (Miquéias
6:10,11); com o abuso dos cargos públicos
através do suborno (“Os seus chefes dão as sentenças por
suborno...” (Miquéias 3.11a), e e a conspiração das pessoas no poder
para o seu próprio benefício (“Chamam
bem ao mal que fazem as suas mãos; o príncipe exige, e o juiz torna como lhe
fazem, e o grande manifesta (descaradamente)o desejo de sua alma, e perturbam o
pais” (Miquéias 7:3). Práticas estas condenadas por Deus, pois as
mesmas defraudam as pessoas comuns se apoderando dos seus meios de vida (“Sim,
a verdade desfalece, e quem se desvia do mal arrisca-se a ser despojado...” (Isaías
59:15a) – “E cobiçam campos, e roubam-nos,
cobiçam casas, e arrebatam-nas; assim fazem violência a um homem e à sua casa,
a uma pessoa e à sua herança. (Miquéias 2:2).
Corruptores e corrompidos são
os dois lados de uma mesma moeda. Onde há corrupção, há corrompidos e
corruptores. Do lado do corruptor existe desonestidade e abuso de poder
econômico, ao usar do dinheiro para obter favor, facilitação ou vantagem
ilegal. Do lado do corrompido, há também desonestidade associada à ganância,
que o leva ao ganho indevido e na maioria das vezes de forma ilegal.
Alguns dados da corrupção
É muito difícil quantificar
a corrupção, admitem ONG´s como Transparência Brasil e Contas Abertas. Mas
podemos citar alguns dados:
- A corrupção consome entre
R$ 50 bilhões e R$ 85 bilhões por ano, segundo estudo de 2010 da Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo. Isso corresponde a 2,3% de toda riqueza produzida no
Brasil em um ano.
- No Índice de Percepção da
Corrupção (IPC) de 2013, o Brasil tem nota 42, ficando em 72º lugar dentre as
nações. A nota varia entre zero (um país mais íntegro) a 100 (um país mais
corrupto).
- Diariamente, 230 crianças
com menos de cinco anos poderiam ser salvas se os prejuízos financeiros com a
corrupção fossem disponibilizados para se alcançar os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio.
- Estima-se que os países em
desenvolvimento perderam cerca de 850 milhões de dólares em 2010, devido aos
fluxos financeiros ilícitos (dados do Banco Mundial).
Como fazer para combater a
corrupção?
O combate à corrupção passa
por ações coletivas, desenvolvidas pela sociedade, efetuadas de modo sistêmico,
contra a contaminação das práticas, dos processos, dos negócios, da aplicação
da lei e da justiça. E, certamente, implica também em atitudes que, como
cidadãos e cristãos, somos chamados a contribuir pessoalmente.
Por onde começar.
Cada cristão, seguidor de
Jesus Cristo, é luz e sal na sociedade onde vive. Temos o dever de ser
vigilantes e participar da vida em sociedade, fiscalizando e denunciando atos
de corrupção, inclusive no espaço eclesiástico, nas denominações, nas
instituições, nas empresas de comunicação e na política local.
O que o cristão deve esperar
(e contribuir) a partir da comunidade onde convive:
- Para sermos luz e sal devemos
ser intolerantes com qualquer tipo de corrupção, lembrando-nos que “o juízo
começa pela casa de Deus” (1 Pedro 4.17).
- Contribuir para que a
igreja seja profeta do Senhor contra a corrupção, mas que seja a primeira a dar
o exemplo em suas práticas eclesiásticas e vida cotidiana.
- Procurar evitar os
políticos que procuram, e os lideres que de certa forma colaboram, com o
envolvimento irregular da Igreja na politica. Atividades “inocentes” como
Marcha para Jesus, participações em algumas solenidades ecumênicas, na maioria
das vezes escondem segundas intenções por parte dos líderes envolvidos.
- Orar para que as igrejas
gerem filhos de Deus comprometidos com um mundo mais solidário e com menos
cobiça, que é fonte de corrupção.
- Sermos intolerantes com a
impunidade de quem quer que seja.
- Sermos solidários com todos
que sofrem as consequências da corrupção, especialmente os mais pobres.
- Contribuir para que a
igreja em geral e os cristãos em particular apoiem reformas políticas como
instrumentos preventivos contra a corrupção.
Ps: As citações bíblicas não identificadas são
constantes da Bíblia Sagrada
– Edições Paulinas, 1963.
Manoel de Jesus,
teólogo e administrador.