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sábado, 3 de junho de 2017

CORROMPIDOS E CORRUPTORES: AS DUAS FACES DA MESMA MOEDA

“Chamam bem ao mal que fazem as suas mãos; o príncipe exige, e o juiz torna como lhe fazem, e o grande manifesta (descaradamente)o desejo de sua alma, e perturbam o pais” (Miquéias 7:3) – Bíblia Sagrada – Edições Paulinas, 1963.    
“Com as mãos prontas para fazer o mal, o governante exige presentes, o juiz aceita suborno, os poderosos impõem o que querem; todos tramam em conjunto”. (Miquéias 7:3) - – Bíblia de Referência Thompson, 1993.

Desde a sua queda no Eden, o ser humano tornou-se corrupto, susceptível a todo tipo de maldade, passando a viver por conta de seus próprios desejos, afastando-se  gradativamente da vontade de Deus.
Através dos seus profetas e dos pais da Igreja Cristã, no Velho e no Novo Testamento, Deus sempre conclamou seu povo para cuidar das comunidades mais vulneráveis da sociedade,  buscando e praticando a justiça. Encontramos o profeta Isaias clamando: “Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas”. (Isaías 1.17) Ainda ecoam em nossos ouvidos as palavras de Tiago; “Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai, por vossas misérias, que sobre vós hão de vir.As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas de traça... Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu”. (Tiago 5:1-6).
Na ultima quinzena, o Brasil, e em particular os brasileiros foram sacudidos com a delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS - a popular FRIBOI que revelou uma faceta insana da psicopatia humana quando da quebra do pilar máster do marco do Estado Democrático de direito que é exatamente o fundamentado na acertativa bíblica: cuidar das comunidades mais vulneráveis da sociedade”; em função do beneficio ilegal e imoral em favor de alguns representantes dos três poderes que em tese teriam o sagrado dever de defender o povo e os interesses da nação brasileira.
Os irmãos Batistas corromperam representantes da Toga, do  Congresso e do Executivo através de práticas comerciais desonestas, (“Ainda há na casa do ímpio tesouros da impiedade, e medida escassa, que é detestável? Seria eu limpo com balanças falsas, e com uma bolsa de pesos enganosos?” (Miquéias 6:10,11); com o abuso dos cargos públicos através do suborno (“Os seus chefes dão as sentenças por suborno...” (Miquéias 3.11a), e e a conspiração das pessoas no poder para o seu próprio benefício (“Chamam bem ao mal que fazem as suas mãos; o príncipe exige, e o juiz torna como lhe fazem, e o grande manifesta (descaradamente)o desejo de sua alma, e perturbam o pais” (Miquéias 7:3). Práticas estas condenadas por Deus, pois as mesmas defraudam as pessoas comuns se apoderando dos seus meios de vida (“Sim, a verdade desfalece, e quem se desvia do mal arrisca-se a ser despojado...” (Isaías 59:15a) – “E cobiçam campos, e roubam-nos, cobiçam casas, e arrebatam-nas; assim fazem violência a um homem e à sua casa, a uma pessoa e à sua herança. (Miquéias 2:2).
Corruptores e corrompidos são os dois lados de uma mesma moeda. Onde há corrupção, há corrompidos e corruptores. Do lado do corruptor existe desonestidade e abuso de poder econômico, ao usar do dinheiro para obter favor, facilitação ou vantagem ilegal. Do lado do corrompido, há também desonestidade associada à ganância, que o leva ao ganho indevido e na maioria das vezes de forma ilegal.

Alguns dados da corrupção
É muito difícil quantificar a corrupção, admitem ONG´s como Transparência Brasil e Contas Abertas. Mas podemos citar alguns dados:
- A corrupção consome entre R$ 50 bilhões e R$ 85 bilhões por ano, segundo estudo de 2010 da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Isso corresponde a 2,3% de toda riqueza produzida no Brasil em um ano.
- No Índice de Percepção da Corrupção (IPC) de 2013, o Brasil tem nota 42, ficando em 72º lugar dentre as nações. A nota varia entre zero (um país mais íntegro) a 100 (um país mais corrupto).
- Diariamente, 230 crianças com menos de cinco anos poderiam ser salvas se os prejuízos financeiros com a corrupção fossem disponibilizados para se alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
- Estima-se que os países em desenvolvimento perderam cerca de 850 milhões de dólares em 2010, devido aos fluxos financeiros ilícitos (dados do Banco Mundial).

Como fazer para combater a corrupção?
O combate à corrupção passa por ações coletivas, desenvolvidas pela sociedade, efetuadas de modo sistêmico, contra a contaminação das práticas, dos processos, dos negócios, da aplicação da lei e da justiça. E, certamente, implica também em atitudes que, como cidadãos e cristãos, somos chamados a contribuir pessoalmente.

Por onde começar.
Cada cristão, seguidor de Jesus Cristo, é luz e sal na sociedade onde vive. Temos o dever de ser vigilantes e participar da vida em sociedade, fiscalizando e denunciando atos de corrupção, inclusive no espaço eclesiástico, nas denominações, nas instituições, nas empresas de comunicação e na política local.

O que o cristão deve esperar (e contribuir) a partir da comunidade onde convive:
- Para sermos luz e sal devemos ser intolerantes com qualquer tipo de corrupção, lembrando-nos que “o juízo começa pela casa de Deus” (1 Pedro 4.17).
- Contribuir para que a igreja seja profeta do Senhor contra a corrupção, mas que seja a primeira a dar o exemplo em suas práticas eclesiásticas e vida cotidiana.
- Procurar evitar os políticos que procuram, e os lideres que de certa forma colaboram, com o envolvimento irregular da Igreja na politica. Atividades “inocentes” como Marcha para Jesus, participações em algumas solenidades ecumênicas, na maioria das vezes escondem segundas intenções por parte dos líderes envolvidos.
- Orar para que as igrejas gerem filhos de Deus comprometidos com um mundo mais solidário e com menos cobiça, que é fonte de corrupção.
- Sermos intolerantes com a impunidade de quem quer que seja.
- Sermos solidários com todos que sofrem as consequências da corrupção, especialmente os mais pobres.
- Contribuir para que a igreja em geral e os cristãos em particular apoiem reformas políticas como instrumentos preventivos contra a corrupção.

Ps:   As citações bíblicas não identificadas são constantes da Bíblia Sagrada – Edições Paulinas, 1963.

Manoel de Jesus, teólogo e administrador.